quarta-feira, 8 de julho de 2009

A GAIOLA DOURADA

Celina Côrte Pinheiro


Peguei minha tela onde costumo construir meus sonhos e pintei uma gaiola dourada. Bem ao lado, desenhei uma flor atraente e um pouco de alimento. Esperava assim atrair, um que fosse, dos pássaros cantores das madrugadas. Entre os galhos do cajueiro pendurei minha tela e fiquei a espreitar por trás de uma árvore. Eu tinha tempo e paciência. Uma, duas horas ou três dias se passaram... Perdi a noção do tempo. De repente, lá vem ele, com seu corpo emplumado de preto e amarelo. Deu um grito agudo “biiiii” e entrou na minha gaiola. Tranquei a porta! Ele levantou a cabeça rapidamente e me olhou espantado. Sentia-se traído por mim. De seus olhinhos pretos e brilhantes caíram duas lágrimas. Deu-me um aperto no peito tão grande e não pude resistir... Devagar, para não incomodá-lo nem um tiquinho, fui removendo cada haste de minha gaiola. Quando ele se viu livre novamente, olhou-me agradecido, cantou “biiiii” e voou. De longe, avistei-o batendo as asas como se me aplaudisse e ao mesmo tempo se despedisse. Compreendi que nem ele, nem as outras aves me pertencem. Elas são do céu e jamais poderei impedir qualquer uma de voar.
Pensei em meus filhos...

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Conto premiado no Concurso Literário “Terça-feira em Prosa e Verso” em 2003

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