quinta-feira, 9 de abril de 2009

ENCONTRO COM RAQUEL

Hoje estive com Raquel. Um sábado nublado como poucos e ela comodamente sentada no banco da praça, dividindo o espaço com os leões. Ficamos frente a frente. Nos cabelos, uma flor murcha colocada por alguém que perambulava pelo local. No rosto, a ausência dos óculos que, a princípio, repousavam sobre seu nariz. Ao seu lado, um homem sentado, com o braço sobre o ombro da escritora. De vez em quando ele esfregava sua grosseira mão esquerda sobre o joelho de Raquel. Outras pessoas paradas também frente a ela, conversavam, riam, sem saber certamente a preciosidade que tinham diante de si. Saí meio desolada e com a sensação de que em um outro dia nublado como hoje, talvez eu não a encontre mais ali ou quem sabe, ao vê-la, não experimente a mesma ternura face ao desencanto da destruição. Parece-me que as pessoas pensam que estátuas sentem falta de um aconchego e por isso não se intimidam em abraçá-las ou encarapitar-se sobre elas... Estátuas são marcos históricos, aparentemente frios e não se emocionam com nossas presenças. Nós é que nos emocionamos com eles. Por isso devemos preservá-los, a fim de conservarmos nossa própria humanidade.

Celina Côrte Pinheiro

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