quarta-feira, 1 de maio de 2013

BLOG DA SOBRAMES-CE: POR: CELINA CÔRTE - SOLIDÃO

BLOG DA SOBRAMES-CE: POR: CELINA CÔRTE - SOLIDÃO: Dra. Celina Côrte Pinheiro - Médica e Presidente da SOBRAMES-CE   SOLIDÃ O Primeiro lugar no gênero Prosa, no concurso Edith Braga,...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A GAIOLA DOURADA

Celina Côrte Pinheiro


Peguei minha tela onde costumo construir meus sonhos e pintei uma gaiola dourada. Bem ao lado, desenhei uma flor atraente e um pouco de alimento. Esperava assim atrair, um que fosse, dos pássaros cantores das madrugadas. Entre os galhos do cajueiro pendurei minha tela e fiquei a espreitar por trás de uma árvore. Eu tinha tempo e paciência. Uma, duas horas ou três dias se passaram... Perdi a noção do tempo. De repente, lá vem ele, com seu corpo emplumado de preto e amarelo. Deu um grito agudo “biiiii” e entrou na minha gaiola. Tranquei a porta! Ele levantou a cabeça rapidamente e me olhou espantado. Sentia-se traído por mim. De seus olhinhos pretos e brilhantes caíram duas lágrimas. Deu-me um aperto no peito tão grande e não pude resistir... Devagar, para não incomodá-lo nem um tiquinho, fui removendo cada haste de minha gaiola. Quando ele se viu livre novamente, olhou-me agradecido, cantou “biiiii” e voou. De longe, avistei-o batendo as asas como se me aplaudisse e ao mesmo tempo se despedisse. Compreendi que nem ele, nem as outras aves me pertencem. Elas são do céu e jamais poderei impedir qualquer uma de voar.
Pensei em meus filhos...

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Conto premiado no Concurso Literário “Terça-feira em Prosa e Verso” em 2003

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A LEI TEM QUE PEGAR

O impacto produzido pela chamada Lei Seca, aprovada em junho de 2008, pouco a pouco se arrefeceu. O tema já não é mais o item dominante na pauta de discussões, em ambientes festivos ou não. Tal mudança certamente não se deve à conscientização da sociedade quanto aos riscos envolvidos na dobradinha álcool e direção. O aprendizado raramente se dá pela simples criação de uma lei. A impunidade e as dificuldades para atender os rigores da lei comprometem os resultados e a sociedade volta rapidamente a assumir antigos hábitos. Bastassem as leis, viveríamos em um país sem tantas dificuldades, face à amplitude de nosso ordenamento jurídico. As leis estabelecem desejáveis modelos de conduta.
O número de pessoas que admitem ingerir bebidas alcoólicas abusivamente e assumem a direção de veículos retornou ao patamar anterior ao advento da lei, em torno de 2%. Isto sem contar aqueles que omitem a informação ou imaginam não correr qualquer risco após a ingestão de quantidades menores de álcool. Uma simples dose de destilado pode comprometer os reflexos, embora o motorista não perceba seus efeitos.
O apelo do ministro Temporão, “A lei tem que pegar... O país precisa desesperadamente que essa lei funcione”, é contundente. Realmente, a sociedade brasileira necessita desta lei, pois milhares de mortes são contabilizadas anualmente, em decorrência de acidentes de trânsito onde o álcool, na maioria das vezes, se encontra envolvido. O drama é ainda maior quando contabilizamos sobreviventes, com seqüelas graves e irreversíveis. Não se pode, contudo, esperar que a conscientização se dê de forma automática. Campanhas continuadas devem ser elaboradas. Demandam alguns anos para que a obediência ocorra naturalmente. Além disso, a fiscalização necessita ser contínua e eficaz para que a sociedade não entre na acomodação gerada pela impunidade.
Enquanto não compreendermos que esta lei foi criada com o intuito de proteger e não apenas punir os cidadãos, continuaremos a vivenciar acidentes no trânsito com progressiva magnitude e complexidade.

CELINA CÔRTE PINHEIRO
PUBLICADO NO DIÁRIO DO NORDESTE EM 05/05/2009

CELINO

CELINO

Celina Côrte Pinheiro

Encontrava-me ainda ligada com unhas e sem dentes a um invólucro aquecido, espiando através da minha primeira janela do mundo e já podia divisar a discussão que se travava a meu respeito. Nasci franzina, com mãos magras e dedos longos, comparados imediatamente aos pés de uma galinha. Mau começo, sem contar aquela respiração rápida, arquejante, acompanhada de um gemido, Apgar-mente nada recomendável.
À minha presença, a discussão se acirrou. Eu deveria receber um nome marcante já que, com aquele aspecto tão depauperado, muito deixava a desejar. Além disso, meu nome deveria obrigatoriamente se iniciar com a letra C, não porque isso tivesse algo a ver com a minha cara um tanto quanto estranha. Na verdade, eu iria compor mais um Cê na família.
A “enfremeira” (mistura de freira com enfermeira) tentando ajudar na definição de meu nome, perguntou à minha mãe:
- Que santo ela trouxe?
Minha mãe, ainda surpresa comigo, um verdadeiro projeto de gente, não entendeu a pergunta e devolveu:
- Nenhum!!
A freira só conseguiu esboçar um “que pena!”, benzeu-se e saiu. Para piorar ainda mais minha condição feminina, nascera também herege! Nenhum santo para me acompanhar... nem à distância! Um caos!
Seguiram-se mil e uma sugestões relativas ao meu futuro nome: Cristina, Carolina, Catarina, Creolina, Crisantina, Cleide, Clélia, Carmem e finalmente Celina, em homenagem a velho amigo de meu tio, um tal de Celino. Este último nome foi rejeitado por oito votos contra um e minha mãe, tomando a palavra, decretou que eu seria Carmem Sílvia. Respirei aliviada, pois meu destino poderia ter sido pior.
Meu pai saiu para o cartório, empunhando o nome sugerido, cuidadosamente anotado em um papelzinho. O problema foi ele haver cedido ao impulso bastante compreensível de arriscar a sorte no jogo do bicho, com o número do quarto onde minha mãe se encontrava. Caso o resultado fosse favorável, a grana ajudaria a reduzir as despesas hospitalares geradas com a minha chegada. Carmem Sílvia virou aposta, por trás de um papelucho com uma centena, do primeiro ao quinto. Meu pai, no cartório, por mais que tentasse, não conseguiu se recordar do nome proposto para mim, cuidadosamente selecionado dentre aquela enxurrada antroponímica. Sem titubear, registrou o primeiro que lhe veio à mente: Celina. Minha mãe, desde o princípio rejeitou tal escolha, passando a me classificar como Celi.
Graças, porém, ao meu verdadeiro nome, cresci às voltas com o assédio do homenageado Celino, um senhor já apanhado nos anos, gorducho e de bochechas rosadas que prometia se casar comigo quando eu crescesse. Apesar de nossa diferença de idade em quase sessenta anos, eu acreditava e me apavorava na inocência dos meus cinco ou seis anos. Como eu o detestava! Felizmente, sua presença era eventual em minha vida.
Cresci, perdi um pouco daquele ar desnutrido e me assumi como Celina, com prazer e orgulho. O velho Celino já desaparecera e eu não tinha mais por que temer. Pelo menos é o que imaginava até participar de uma coletânea onde eu era a única presença feminina, junto a um exército masculino. Por conta de uma falha gráfica, nomearam-me Celino, em uma desaforada reminiscência ao meu passado conflituoso.
E agora lhes pergunto: - Será que a alma do velho Celino continua me atentando? Que Deus o tenha!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Opinião de Plinio Bortolotti

A Folha de S. Paulo [Ilustrada], traz na edição de hoje [26/4/2009] reportagem sobre uma biografia de Walt Disney [aqui, para assinantes]. O livro desfaz alguns mitos sobre o pai do Mickey e confirma outros. De fato, ele tinha uma personalidade tirânica, era anticomunista; não há provas que ele tenha sido antissemita. Mas, acima de tudo, segundo o livro, era um criador genial, capaz de produzir milhares de desenhos a mais para obter uma animação com movimentos realistas. O autor do livro - Walt Disney: o triunfo da imaginação americana - é Neal Gabler, que consultou milhares de documentos inéditos para escrevê-lo.

Se a memória não me trai, e ela sempre nos prega peças, a primeira obra que li foi um gibi do Mickey, em cuja história ele visitava uma tribo de índios. Eu devia ter uns seis anos, fazia uma viagem de trem com meu pai, e ele comprou a revista de um dos funcionários da ferrovia que passavam oferecendo as coisas mais diversas pelos corredores dos vagões.
Quando Disney morreu, em 1966, eu tinha 10 anos - e levei um choque -, pois achei que nunca mais veria um desenho feito por ele ou uma história inédita. Na minha compreensão infantil, eu via aquele homem, noite após noite, desenhando e escrevendo, sozinho, cada uma daquelas fantásticas histórias.
Um pouco mais crescido, passei para leituras mais "adultas", tornei-me admirador do Sr. Walker, mais conhecido como Fantasma, o espírito que anda, de seu amigo Guran [o pigmeu da tribo bandar], do seu lobo de estimação, Capeto, e do se cavalo banco, Herói. [A propósito, quando começaram a maldar dos super-heróis, Fantasma foi o primeiro a se casar, com a sua namorada, a srta. Diana Palmer; mas, por essa época, eu já não participava mais de suas aventuras.]
Hoje, quando vejo alguns pais condenarem jogos eletrônicos ou o uso computador, pois estes "desviariam" os filhos de coisas mais importantes, lembro que, quando criança havia a mesma lenga-lenga a respeito dos gibis. Felizmente, meus pais nunca proibiram; como eu tinha pouca grana, participava de uma feira de troca que ocorria, a cada domingo, antes do início das matinés do Cine Fernandópolis. Foi graças aos gibis que eu me tornei um leitor.
Postado por Plínio Bortolotti às 20:35
Marcadores: gibis, quadrinhos, walt Disney
Em resposta ao que o jornalista Plínio Bortolotti escreveu sobre histórias infantis

Creio haver um certo exagero atualmente em relação a histórias, músicas infantis, jogos eletrônicos etc.. A depender das histórias e das músicas que fizeram parte do meu imaginário infantil, hoje eu daria pauladas em gatos, morreria de trabalhar como uma formiga, viveria à cata de um príncipe encantado, teria me casado com um sapo só pra ver o resultado e morreria de insônia com medo do boi da cara preta...
Mas, não! Hoje reconto as histórias e lanço um olhar crítico e, por que não, sorridente, em relação a elas. Há quem se casa com um sapo, na doce ilusão de transformá-lo e acaba por descobrir que ele não passa de um sapo mesmo! A cigarra virou cantora e joga na cara da formiga que esse negócio de trabalhar sem criatividade não leva ninguém pra frente. Espero que a formiga haja aprendido que trabalhar continuamente sem nunca se dispor a tamborilar umas bobagens no teclado, como estou fazendo agora, não leva ninguém pra frente. Quanto ao gato, ele comprovou realmente ter sete vidas. Apesar das pauladas, não morreu,reu,reu... Dona Chica,ca,ca deve hoje ter mil e um motivos para se admirar diante da violência gratuita que há fora das histórias e canções infantis.As histórias, canções, novelas, peças teatrais apenas imitam a vida e inserem um fantasia que nos faz sonhar e refletir.

27 de Abril de 2009 14:44